Facada na Mônica

por André Rafaini Lopes

Arrependei-vos! O Dia do Juízo Final está próximo, senhoras e senhores! O Cascão tomou banho. A Magali abandonou a melancia. Cresceu cabelo no Cebolinha. A Mônica aplacou sua fúria. E, sim, o Facada se rende a um meme da blogosfera: descer a boca no lançamento de Maurício de Souza. A Turma da Mônica Jovem é a revistinha que mostra a adolescência dos personagens e cuja leitura pode justificar uns bons anos de análise. Convenhamos que não é sempre que vemos o Cebolinha entre as pernas de uma sinuosa Mônica – fora de uma tijuana bible.

Para falar a verdade, eu desisti da versão clássica há algum tempo: as histórias tinham se tornado muito repetitivas. Nesta retomada generalizada de interesse, resolvi peitar meu preconceito e no mesmo dia em que comprei a versão adolescente, puxei um gibi do Chico Bento para ver a quantas andava. O que li: Dona Marocas encara, sem susto ou medo, a Mula-sem-cabeça, o Saci e o Lobisomem. Aí chega em casa e se põe a corrigir provas. O Chico tira dez e ela cai desmaiada.

Quantas vezes, meu dileto facada-boy, você já leu algo semelhante nos últimos 30 anos?

A Turma da Mônica Jovem tenta renovar os batidos enredos e no traço. Vamos para a briga: para começar, vejo um certo erro de estratégia comercial. A turma criança é uma leitura unissex e isso funciona para o tipo de história que a HQ se propõe. Agora, quando o foco é adolescência, a coisa muda de figura.

Um moleque quer ver a cinturinha definida da mãe da Mônica (a MILF mais famosa dos gibis brasileiros) e de quebra encontrar alguma aventura com poderes mágicos sendo evocados com papiros. As meninas querem uma companhia para adolescer, personagens com quem rir a cada constrangimento do processo – coelhadas no pai que entra no quarto sem bater – e que suspire com amores platônicos. Ou vice-versa. Tempos loucos os nossos. O problema é que tudo isso está na Turma Jovem e não vejo muita harmonia em todos esses elementos.

O traço mangá também cai nesse problema. Pela escola japonesa, os quadrinhos para meninos e para meninas têm diferença no traço. Enquanto os primeiros (shonen) forçam a mão em personagens mais musculosos e erotizados, os segundos (shojo) usam figuras mais alongadas e românticas. A nova revista também não fica nem lá nem cá e abusa muito dos recursos gráficos do humor mangá.

Em favor do lançamento está o editorial em que se assume o caráter experimental da coisa e, particularmente, a reverência a alguns poucos elementos dos personagens clássicos – adorei a primeira cena em que só se vê uma mecha de cabelo da Mônica já crescida dormindo, mas que levava a crer que estávamos ainda na criança.

A solução para o imbróglio já está nas mãos dos criadores do estúdio Maurício de Souza. Os caras que criaram o Lostinho (paródia do seriado com os personagens da turma) e subverteram tantos clichês da série clássica, com tanta criatividade, poderiam repetir a dose. É só querer.

2 comentários em “Facada na Mônica

  1. Realmente, muita gente tem falado sobre essa nova Turma da Mônica. Isso tá parecendo as novas Meninas Superpoderosas (geração Z). Uó! O que me assusta é que teve gente que falou bem! Não foi bem o caso aqui. Muito bom o texto. beijo

  2. Quando eu era moleque, tínhamos uma coleção de piadas sobre o “cúmulo”. Então:
    1 – Qual é o cúmulo da dor? Escorregar em um tobogã de giletes e cair em uma piscina de álcool.
    2 – Qual é o cúmulo do mangá? As meninas superpoderosas geração Z.

    Todo o visual do desenho já é mangá (ou anime, para manter o preciosismo), com aqueles olhões, efeitos e o caramba.

    Obrigadão pela leitura e pelo espaço, Robbes! Beijo.

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